quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Vale do amanhecer


O ANGICAL


· O Angical é um trabalho realizado especificamente para a passagem de espíritos cobradores.

· O nome ANGICAL deriva de um Arraial que existia no Sul da Bahia, primeiramente chamado Abóboras, existindo neste local as Fazendas 3 Coqueiros e dos Ferreiras. Neste Arraial, e redondezas, no período do Brasil império, milhares de espíritos encarnaram provocando grandes desatinos, gerando tristes carmas, haja visto os dramas desenvolvidos no palco da vida escrava.

· Nossos mentores, alcançando a condição mediúnica, autorizaram este trabalho, adequado para a vida destes espíritos com os quais contraímos débitos, para a rica oportunidade do reajuste.

· “Então eis porque Deus nos confronta frente a frente com as nossas vítimas do passado e delas ou por elas, inconscientemente, sentimos na carne o que as fizemos sentir. Hoje, no Vale do Amanhecer, os mais esclarecidos buscam os que ainda estão nas trevas ou no alcance de suas cobranças. Agem, se esclarecem e se voltam para Deus”.

· Os médiuns Doutrinadores devem ficar descontraídos – mas não desconcentrados – para facilitar a aproximação dos espíritos cobradores ou sofredores. Não vamos nos esquecer de que ali está a oportunidade de nos reencontrarmos com as nossas vítimas do passado, as quais, em muitos casos, foram exatamente a causa da nossa reencarnação atual. Por isso, faz-se necessária a manipulação com muito amor, muita tolerância e muita atenção nesse reencontro espiritual.

ADJUNTO ARCANOS


Quando Tia Neiva foi preparada na Alta Magia, foi levada por Humarram ao Oráculo de Simiromba e ali recebeu o direito de trazer a Estrela Candente e de formar os Trinos, que seriam os representantes das nossas Raízes, o que se seguiu da ordem superior para fazer os Adjuntos.
A formação de Adjuntos Koatay 108 (atualmente Adjuntos Arcanos) foi feita para estabelecer uma hierarquia dentro da Corrente, um elo de sustentação das forças, cada um recebendo sua consagração que o ligou a um Ministro.
Passou, assim, a se constituir no poder básico da Corrente do Amanhecer, sendo seus componentes integrados pelos médiuns - Doutrinadores e Aparás - que a ele devem filiar-se após a Consagração da Centúria, conclusão do Curso de Pré-Centúria. Os Adjuntos Presidentes de Templos Externos já compõem seu povo com a totalidade dos médiuns locais.


• “Sabendo que tudo que atinge a Humanidade tem a sua Raiz ou Adjunto, que trabalha distintamente em seus Oráculos, em sintonia cabalística, vamos, meu filho, penetrar no mundo encantado de Simiromba, nosso Pai e de seus Ministros.
Removendo séculos, encontraremos, dos nossos antepassados, suas heranças nos destinos que nos cercam: você, meu filho, denominado ADJUNTO DO JAGUAR, ORÁCULO DO AMANHECER!” (Tia Neiva, 1.9.77)


A CONSAGRAÇÃO
No dia 1º de maio de 1978, na Estrela Candente, foram consagrados os Adjuntos Rama, e, em 23 de julho do mesmo ano, foram consagrados os povos dos Adjuntos Koatay 108 - Arjuna-Rama -, que receberam também a sua Lei, em ritual feito por Tia Neiva, realizada na Cabala especialmente construída para sua realização, junto à Estrela Candente.
Nas explicações sobre o ritual, Koatay 108 esclareceu:
• “Uma grande tribo partia para a guerra de suas novas conquistas quando um despertar de amor a fez voltar até o Santuário, pedindo a Amon-Rá que abençoasse aquele povo.
Esta Iniciação, atravessando séculos, chegou até aqui!
Arjuna-Rama entra no Oráculo - ou Santuário, com uma lança na mão, escoltado por ninfas Dharman Oxinto.
No portão do Santuário pergunta à I Solitária Yuricy se pode se espiritualizar. Esta vai à presença do Sacerdote, que está com os poderes de Koatay 108, que lhe responde: se for por bem, diga-lhe que entre!
Ele entra e recebe os poderes que lhe são merecidos, sal e perfume, pelas seguintes palavras: EU TE CONSAGRO KOATAY 108!
Em seguida, toma o vinho e vai até o Trino, que lhe concede a graça pedindo que traga à sua frente o seu povo, a sua tropa, como disse Amon-Rá, fazendo daquele valente comandante de outrora um Arjuna-Rama.
Depois do consentimento do Trino, volta ao Santuário, onde Koatay 108 ou seu representante lhe dará a Lei, que significa o Roteiro de sua Jornada.
Com a mudança de seus sentimentos, vai pedir outra vez a Koatay 108 para espiritualizar seu povo, que entra no Santuário e se espiritualiza. Arjuna-Rama recebe o sal e o vinho e, em frente aos seus Capu-Anês - Sétimos Raios - faz, de joelhos, seu termo: o Juramento.
Então, segue com o seu povo”.


LEI DO ADJUNTO
• “O Adjunto tem toda a regalia na Doutrina e em suas inovações que quiser. Porém, tem que respeitar as Leis e os regulamentos internos. Sendo Adjunto, seus direitos envolvem todos os trabalhos existentes na Corrente Indiana do Oriente Maior, na Linha do Amanhecer, quero dizer: Linha Iniciática.
A Corrente Mestra vem da Corrente Indiana do Oriente Maior. Simiromba é a junção de sete Raízes universais. Quando Simiromba se desloca, na sua ordem vão também se deslocando as Raízes, segundo sua necessidade, porque, filho, saiba pois, que as forças não se deslocam em vão.
Segundo posso explicar, cada Raiz tem o seu conceito, porque atrai sempre a origem. É uma honra atender a Simiromba! Por conseguinte, há, inclusive, precisão na escolha ou na necessidade.
Os Grandes Iniciados são precisos. Posso afirmar que há, inclusive, uma técnica. Eles não deslocam uma força indevidamente e, por isso, não devemos invocar. Invocamos sem saber o que merecemos. Porém, eles sabem, com precisão, do que precisamos.
Uma Raiz é algo, por exemplo, como um estado de acomodação de forças em movimento de destaque. Podemos considerar que as Raízes foram formadas pelos Grandes Iniciados na Terra, assim como nós estamos tentando homogeneizar a Raiz do Amanhecer, bem como, também, uma contagem para um Adjunto.
Uma contagem só se forma pelos seguintes médiuns: Orixá, na Linha Afro, Arjuna-Rama, na Corrente Indiana, que tem como sinônimo o Primeiro Sétimo, Adjunto Koatay 108 Arjuna-Rama (tradução: Multiplicação Divina); VII Raio - D’Havaki Gita (tradução: Ilimitado); VI Raio - D’Hira (tradução: Continuação). As Ninfas Sol Yuricy são as ninfas classificadas para as invocações e consagrações.” (Tia Neiva, 23.7.78)

PAI SETA BRANCA E MÃE YARA MENTORES RESPONSAVEIS PELA DOUTRINA DO VALE DO AMANHECER


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Pai Seta Branca é um dos nomes recebidos pelo luminoso espírito de Oxalá, Orixá poderoso que preside todo o desenvolvimento cármico do nosso planeta, a quem foi dada a missão de espiritualizar o Homem.

É o grandioso guardião do Oráculo de Simiromba (*), que administra todo o potencial de forças que agem e interagem na Terra. SIMIROMBA significa, em nossa Corrente, “Raízes do Céu”, e Pai Seta Branca é o Simiromba de Deus! De seu Oráculo, Simiromba realiza toda a grandeza presente em nossos trabalhos.

Chegando aqui na Terra, liderou a missão dos Equitumans (*) , quando ficou conhecido como Jaguar, e dos Tumuchy (*).

Na condição de espírito irmão de Jesus, foi seu mais amado discípulo – João, que escreveu o IV Evangelho e o Apocalipse.

Oxalá retornou no século XII, na Itália, como Francisco de Assis, junto com sua alma gêmea - Mãe Yara - como Clara de Assis, desenvolvendo magnífica obra dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, criando a Ordem Franciscana, implantando as bases de sua Doutrina: Amor, Humildade e Tolerância, idéias das quais os Homens estavam afastados.

Na época da conquista da América, no século XV, Oxalá era o grande cacique de uma tribo Inca, estabelecida em Machu-Pichu, tendo recebido o nome de Seta Branca por causa de sua lança branca, armada com uma presa de javali.

Em Machu Pichu existem algumas curiosidades, como a visão em rotação de 90º e a imagem gravada na Pedra dp Sol.

Com as conquistas espanholas na região andina, houve uma ocasião em que os espanhóis chegaram nas proximidades daquela tribo, ameaçando-os. Seta Branca e seus oitocentos guerreiros aguardavam os invasores em um descampado. Quando estavam próximos para iniciar a batalha, Seta Branca começou a falar, ao mesmo tempo em que, com sua seta branca nas mãos, fazia como que uma oferenda aos céus.

Sua voz ressoava por toda aquela região, gerando campo de forças que trouxe um clima de paz e tranqüilidade o qual influenciou todos aqueles corações. Guerreiros dos dois lados sentiram aquela emanação, e foram se ajoelhando. Seta Branca terminou sua invocação, trouxe sua seta até o plexo, e ficou em silêncio, de cabeça baixa, aguardando os acontecimentos.

Os espanhóis foram se levantando e abandonando o campo, e retornaram para seus acampamentos, no oeste, sem qualquer confronto. Os Incas retornaram à sua cidade, sentindo o poder do amor sobre a força bruta. E ali viveram por muitos anos ainda, totalmente isolados.

Esses espíritos retornaram no limiar do Terceiro Milênio, liderados por Oxalá, na roupagem de Pai Seta Branca, tendo como líder, no plano físico, Tia Neiva (*), que reuniu os Jaguares sob a Doutrina do Amanhecer.

TIA NEIVA, KOATAY 108 RESPONSAVEL

PELA DOUTRINA DO VALE DO AMANHECER NA TERRA.

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Com a aproximação do Terceiro Milênio, surgiu a necessidade de mais uma vez ser feita a integração das raízes capelinas neste planeta.

Um espírito foi preparado, na Espiritualidade Maior, para trazer à Terra a Doutrina de Pai Seta Branca, após experiência de muitos milênios, portando a força dos Equitumans, a ciência dos Tumuchy e tendo como principal missão a reunião dos Jaguares e a criação da figura inovadora do Doutrinador, manipulando as forças projetadas pela Corrente Indiana do Espaço e pelas Correntes Brancas do Oriente Maior.

Tendo reencarnado em diversas épocas com papéis preponderantes em suas épocas, como, por exemplo, Pytia, Cleópatra e Natasha, esse espírito conhecido no mundo espiritual como Koatay 108, portador de 108 mantras de forças, seria, durante esta missão de implantação da Doutrina do Amanhecer na Terra, conhecido como Tia Neiva. Nesta jornada, seria ainda homenageada pela Espiritualidade Maior com o título Agla (*).

Reencarna no sertão brasileiro, em Propriá, Sergipe, como uma menina que se chamou Neiva, nascida a 30 de outubro de 1925 e que desencarnou em Brasília, DF, no dia 15 de novembro de 1985, já tendo cumprido sua jornada em meio a muitas dificuldades e grandes realizações.

Em 1949, com 22 anos e quatro filhos, Neiva ficou viúva e teve que buscar seu sustento. Começou sua vida profissional em Ceres, onde montou o Foto Neiva, tirando retratos e vendendo material fotográfico, mas teve que desistir, por recomendação médica. Com sua forte personalidade, ela não se deixou abater. Comprou um caminhão e tirou habilitação profissional, a primeira concedida a uma mulher no Brasil, e começou a transportar cargas por todo o país

Em 1957, fixou-se em Goiânia (GO), e passou a dirigir ônibus, porém mantendo seus caminhões em serviço. Nesse mesmo ano, com a oportunidade da construção da nova capital – Brasília -, Neiva mudou-se com a família para o Núcleo Bandeirante, ponto inicial das obras da nova cidade, trabalhando com caminhões na NOVACAP.

Estava com 32 anos quando sua mediunidade se abriu, revelando-se sua clarividência. Durante mais um tempo, Neiva via e ouvia os espíritos e podia prever o futuro e revelar o passado das pessoas, o que a deixava desesperada por ter tido uma formação familiar rigorosamente católica.

Sua trajetória, então, passou por penosa adaptação para aceitação de sua missão.

O potencial de Tia Neiva não pode ser resumido na clarividência, pois ela foi dotada de mediunidade universal, isto é, possuía todos os tipos de mediunidade, qualidade peculiar de um ser Iluminado, pois, segundo a Lei dos Grandes Iniciados, somente um Iluminado pode iniciar alguém.

Essa condição permitiu que, dentro de modesta e simples condições, Tia Neiva vivesse e agisse, simultaneamente, em vários planos existenciais com plena consciência em cada um desses planos, visualizando o passado ou o futuro, traduzindo suas visões em termos coerentes e racionais.

Podia ver e conversar com seres de outras dimensões e de planos inferiores ou superiores, realizava transportes e desdobramentos, o que permitiu que fizesse um curso no Tibete, com o Mestre Humarram, sem que seu corpo físico de deslocasse do Vale do Amanhecer.

Em 1958 deixou o Núcleo Bandeirante, onde começara sua missão espiritualista, e junto com seus filhos Gilberto, Carmem Lúcia, Vera Lúcia e Raul, e mais cinco famílias espíritas, fundou, em 8 de novembro de 1959, a União Espiritualista Seta Branca - UESB, na Serra do Ouro, próximo a Alexânia, Goiás, dando início à missão que recebera de Pai Seta Branca. Em um rústico templo iniciático, pacientes eram atendidos pelos médiuns que ali residiam, em construções de madeira e palha. Tia Neiva mantinha ali, também, um hospital e um orfanato com cerca de oitenta crianças. Plantavam, faziam farinha para vender, pegavam fretes, e tudo era válido para ajudar na manutenção do grupo.

Em 9 de novembro de 1959, Tia Neiva ingressou na Alta Magia de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em 1964 mudou-se para Taguatinga, onde funcionou a Ordem Espiritualista Cristã, e sendo Tia Neiva mais uma vez internada por causa da tuberculose.

Após trabalhosa busca para encontrar o local certo para se fixar, Tia Neiva e seu grupo chegaram a Planaltina, DF, em 9 de novembro de 1969, onde fundou o atual Vale do Amanhecer.

Pela Doutrina, Tia Neiva implantou a importante conduta doutrinária em seus médiuns, capacitando-os ao atendimento sob a ação das forças iniciáticas, sem precisar da manifestação dos pacientes, que não precisam revelar quem são, o que fazem ou de onde vêm.

Vivificando o Evangelho de Jesus, simples e humana, foi Tia Neiva uma grande mãe para todos nós, sempre nos tratando com amor e carinho, compreensão e tolerância, suavemente nos impondo o respeito e a obediência a ela devidos como líder de uma Corrente cuja grandeza e limites não podemos alcançar.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Tiãozinho e Justininha

Existia uma bela fazenda, situada no município de Ponta Porã, estado de Mato Grosso, tendo como proprietário o Sr. Germano Perez, que ali vivia com sua esposa, Dª Guiomar Peres, e seus três filhos. Sua filha mais velha, linda mocinha paraguaia, nos seus 14 anos de idade, cabelos compridos e louros, olhos negros “rasgados”, chamava-se Justininha Perez. Ali vivia, em completa harmonia, esta honesta família. O Sr. Germano tinha muitos negócios com animais de criação, de inigualável qualidade. Apesar de sua nacionalidade paraguaia, já se sentia um brasileiro naturalizado.

Em 1915, eu, Sebastião Quirino de Vasconcelos, filho de fazendeiros de Mato Grosso – Joaquim de Vasconcelos e Dª Persínia Quirino de Vasconcelos, minha mãe – estava administrando, com mão firme, nossos bens, vivendo em nossa fazenda, cercado pelo amor de meus pais. Certo dia, meu pai me chamou e me entregou uma quantia em dinheiro, dizendo-me: Meu filho, já tens um pouco de prática, e melhor seria, para nós, se não precisasses te ausentar daqui. Porém, preciso que vás até Ponta Porã comprar uma partida de bom gado para ser solto, aqui, nestas invernadas. Esta é a melhor maneira de empregar este teu dinheiro. Dizem que na Fazenda Perez tem um gado sadio e por bom preço. Sim, meu filho, em breve estarás se casando, e deves, desde já, cuidar do teu futuro. Vá, meu filho, aproveita estas invernadas...

Três dias depois desta conversa, estava de partida. Equipei uma tropa de bons animais, com cinco vaqueiros armados com seus bacamartes de chumbo grosso, pois era aquela região muito perigosa, infestada de onças traiçoeiras. Levei, também, dois comandantes, peritos em guiar boiadas e um crioulinho, chamado Zeferino, homem de minha inteira confiança, pois fomos criados juntos e eu o considerava como um irmão. Só que eu era claro, e ele pretinho como piche. Com os cargueiros repletos de apetrechos de cozinha e mantimentos, com as bênçãos de meus pais, partimos para Ponta Porã. Gastamos vinte dias em nossa jornada, e ficamos conhecendo uma porção de lugarejos, onde parávamos para descansar e pernoitar, tendo eu, na minha bela idade, namorado muitas moças.

Chegamos, por fim, à bem formada Fazenda Perez, e fomos muito bem recebidos por um senhor gordo, de aspecto bonachão, que se apresentou como o Sr. Germano. Convidou-nos a entrar na grande casa, e ordenou que nos fosse servido o jantar. Depois da lauta refeição, fomos nos sentar em uma ampla sala de visitas, para podermos conversar sobre negócios. Nossa atenção foi despertada pela entrada de uma mocinha, com belas tranças e um ar angelical, que vinha trazer uma moringa com água. Justininha, minha filha, – disse o Sr. Germano – venha até aqui conhecer estes cidadãos!

E voltando-se para nós, continuou: Esta é a minha filha mais velha. Ela é muito caseira, muito acanhada. Não gosta de festas, e só sai de casa para ir à casa da tia. É muito sistemática esta menina...Ela foi cumprimentando, apertando as mãos de um por um, até chegar diante de mim. Olhamo-nos como se já nos conhecêssemos, e senti meu corpo se arrepiar. Ela se retirou apressada, mas eu estava certo de que ela também sentira alguma coisa de diferente, como se já tivéssemos nos encontrado em outras eras.

Após algum tempo, o Sr. Germano chamou Dª Guiomar, que era uma pessoa muito alegre, e nos propuseram: Vamos pegar os instrumentos e cantar até a hora de dormir? Todos apoiamos a boa idéia e, pouco depois, chegaram alguns tocadores, acompanhados por umas mocinhas. Começaram a tocar e a cantar e, enquanto isso, os donos da casa nos serviam bebidas, doces e biscoitos. De repente, ouviu-se uma exclamação de surpresa do velho fazendeiro, que se deparara com Justininha sentada ali, assistindo à alegre reunião. Sua filha raramente participava desses eventos.

O Sr. Germano pegou a mão de sua filha e pediu silêncio. Justininha, agora, vai cantar em homenagem aos nossos visitantes! – anunciou. Justininha corou, acanhada, e nossos olhares se cruzaram. Ela, então, foi para junto de um violeiro, e iniciou uma canção, que dizia:

Meu amor nunca chega-, eu me canso de esperar...- a garça branca me disse -, que ele não vai demorar!...
Papaizinho me consola -, garça branca vai buscar...- não é mentira do papai -, meu amor já vem pra cá!

Terminada a canção, todos aplaudimos. Eu estava fascinado por aquela criaturinha, uma linda criança! Sentia meu peito explodir de paixão pela bela Justininha. Pediram que eu cantasse alguma coisa. Peguei meu violão, e comecei:

Morena, minha morena -, morena dos sonhos meus -, lábios da cor de verbena -, morena dos olhos meus...
Deus ao te fazer, criança -, fez-te entre as flores a mais bela -, dotando tua alma de esperança -, e teu olhar de estrelas!...
Quero dormir em teus braços -, aos gozos do coração -, minha alma assim não resiste -, a tanta ingratidão...
No mar de tuas madeixas -, quisera eu naufragar...- teus olhos negros me matam -, nessa singeleza sem par!

Terminei, e todos vieram me cumprimentar. O Sr. Germano me disse: Jovem, parabéns. Tens uma bela voz, e creio que deixou muitos corações apaixonados!...O fazendeiro anunciou que estava na hora de dormir, e todos começaram a se retirar. Fiquei por ali, e me sentei diante do fogo que estava se apagando, mergulhado em meus pensamentos. É verdade, – pensava – que sempre sonhei com alguém como Justininha. Sinto que ela veio matar esta saudade que eu vivia alimentando em meu coração, sem mesmo saber de quem! Mergulhado em meus sentimentos e em minha paixão, senti, de repente, alguém que se aproximava, às minhas costas. Virei-me, e qual não foi minha surpresa: ali estava Justininha, com sua saia bem comprida, seus cabelos soltos e uma echarpe sobre os ombros. Senti forte emoção, e, se não estivesse já sentado, por certo teria caído. Ela falou: Meu papaizito pediu-me para vir ter consigo. Ele me disse que você é um jovem educado e de boa família, e que parece estar triste em nossa casa!

Ela continuou, com seu ar angelical, a falar: Sabe, senhor Sebastião, eu queria ouvir, novamente, aquela sua canção! Gostei tanto! E escondendo o lindo rostinho na echarpe, perguntou: Foi para mim que o senhor cantou, não foi? Se foi, peço que a recite agora, sem música... Quero ouvi-la novamente!

Eu não conseguia desviar o olhar daquela pequena fada. Falei, emocionado: Dona Justininha, quando a senhora cantou, disse que seu amor estava longe, mas já vinha para si. É verdade que ele existe e que seu pai bem o conhece? Responda-me, porque eu a amo e quero que seja minha esposa!...

A surpresa paralisou-a por um momento. Logo, sorriu e me respondeu: Não, não tenho nenhum amor... Sei que sinto uma grande saudade, que eu mesma não sei de quem! Só sei que ele existe e, um dia, chegará, e me levará para longe daqui. O senhor vem de muito longe? Sim! – respondi, emocionado – E teria coragem de casar-se comigo e, juntos, irmos embora daqui? Sim! Sim! – respondeu ela – Sinto que você é esse meu grande amor!... Se o papaizito e a mamãezita consentirem, vamos nos casar, e partiremos juntos... A tua canção... Sei, agora, que cantou para mim, porém, naquele momento, não gostei, porque parecia que olhava, com ternura, para Marinalva, aquela sirigaita, que eu não suporto!... E você também aplaudiu muito quando a Maura cantou! Sabe? Fiquei sem graça, com ciúme, quase com raiva, e por isso não quis mais cantar. Ainda tinha uma linda canção para cantar para você... – e concluiu com firmeza – E quando você quiser alguma coisa, peça para mim, que eu mesma virei trazer. Pode dirigir-se a mim, ouviu? Não precisa pedir nada às outras moças, porque terei o maior prazer em atendê-lo.

Ao ouvi-la, pensei como era singular aquela moça. Sentia minha paixão aumentar a cada momento. Disse-lhe, então: Justininha, nada quero com estas moças! Estou apaixonado por você e vou pedir a seus pais o consentimento para nos casarmos. Amanhã já irei embora, mas vamos marcar um dia para eu voltar e pedi-la em casamento...

O Sr. Germano chegou, interrompendo nosso encontro, e disse: Meu rapaz, está de parabéns! Minha filha até parecia um bichinho arredio e, no entanto, soubestes torná-la tua amiga. Parabéns, meu jovem, parabéns!...Sorri como resposta e fomos dormir.

No outro dia, bem cedo, separamos o gado e fiz o pagamento. Juntei meus empregados e tudo ficou pronto para a partida. Fui me despedir dos velhos, e o Sr. Germano me contou que estava, há muitos anos, sem sair da fazenda, e que gostaria de dar um passeio com a família. Aproveitei a oportunidade, e ofereci-lhes minha casa, ficando acertado que, tão logo pudessem, iriam passar uns dias conosco, em nossa fazenda. Justininha foi até o curral para as nossas despedidas. Contei-lhe sobre o convite que havia feito e a possibilidade de conhecerem meus pais. Ela saiu chorando, e senti algo atravessar minha garganta, sufocando-me. Parti com meu povo, levando quinhentas cabeças de gado. Retornávamos pelos mesmos lugares que havíamos passado na ida, mas não tinha a mesma alegria. Meus companheiros riam-se de mim, dizendo: A paraguaia parece que prendeu o coração do patrãozinho! É verdade – confirmavam outros, sorrindo – e, pelo que vemos, vai haver festança em breve! E ficavam sempre brincando comigo, procurando afastar minha tristeza.

Na verdade, eu tinha ânsias de gritar aquele amor que sufocava meu peito. Notei, então, que Zeferino estava como eu. Querendo ajudá-lo, num momento em que ficamos só nos dois um pouco afastados do pessoal, perguntei-lhe o que estava se passando. Ele baixou a cabeça e falou, quase chorando: Sabe, Tiãozinho, a verdade é que gostei muito daquela crioulinha, chamada Tianinha, que foi criada por Dª Guiomar. Nós nos demos muito bem, e se eu não me casar com ela, morro de paixão... E sei que ela também morrerá! Fiquei boquiaberto, surpreso por vê-lo estar na mesma situação que eu. Contei-lhe sobre minha paixão pela linda menina paraguaia. Animei-o, dizendo que eu faria tudo para ver nós dois felizes, realizando nossos sonhos de amor. Ele ficou tão alegre que pegou o bacamarte e disparou um tiro para cima, cujo estampido assustou todos. Para os rapazes que se acercaram de nós, curiosos, ele disse:

Vou me casar com Tianinha! Vou me casar! Convido todos para o meu casório!...Prosseguimos nossa trabalhosa viagem e, sofrendo e brincando, chegamos em casa. Meus pais já estavam preocupados e saudosos, e fizeram grande festa pela nossa chegada. Logo que arrumamos as coisas, fui procurar Martinha, minha antiga namorada, e fiquei surpreso: durante os dois meses que durou minha viagem, ela ficara noiva de outro!

Seguiram-se dias de calmaria, e fui relatando aos meus pais os detalhes da viagem, inclusive sobre nossa rápida estada na fazenda do Sr. Germano e a forma gentil com que ele nos tratara. Contei, com pormenores, a paixão de Zeferino por Tiana, seu desejo de logo se casarem, mas me resguardei, nada falando de Justininha. Meus pais ficaram bem impressionados com o que contei, e demonstraram o desejo de logo conhecerem aquela família que tão bem nos acolhera. O tempo foi passando, e já se tinha escoado quase um ano de nossa viagem. Não conseguia deixar de pensar na minha bela paraguaia, e Zeferino já começava a perder a esperança de reencontrar Tiana. Tive, então, a idéia de pedir a meu pai que enviasse um convite à família Perez para que viessem passar o Natal conosco. Ele, alegremente, concordou, e logo partiu um mensageiro, portando o convite. Passados uns dias, eu estava no curral, na rotina do trabalho, quando chegou Zeferino esbaforido, gritando e pulando:

Chegaram! Chegaram! Eles já estão lá em casa! Saímos correndo, com o coração explodindo no peito. A primeira coisa que vimos foram os animais parados diante da casa. Chegamos como dois furacões, e a alegria estava em nossos semblantes e nos de nossos visitantes. Seguiram-se dias de alegria e realizações, porque, revelados nossos sentimentos, tanto o Sr. Germano como meu pai se mostraram felizes com nossa união. Isso solidificou ainda mais a amizade que surgiu entre os dois. Algum tempo depois, realizou-se o enlace de Zeferino e Tiana. Um mês depois, casei-me com Justininha. Ela, em seu vestido de noiva, era o símbolo da pureza, embora seus ciúmes fossem os mais engraçados possíveis e todos riam da sua ingenuidade.

Fomos morar em um retiro, perto da sede da fazenda. Lembro-me bem que, quando já estávamos com cerca de dois meses de casados, recebemos a visita de umas primas minhas, que vieram de Parnaíba, e ficaram com meus pais. Justininha, ao vê-las, ficou com ciúme, fazendo suas birrinhas. Resolvi, então, me retirar, pedindo desculpas e alegando que tinha que ir encontrar Zeferino. Quando me preparava para sair, minhas primas se acercaram de mim, pedindo que eu não fosse. Justininha ergueu-se e, com um jeitinho altaneiro, disse: Respeitem-me, ouviram? Ele é meu esposo, e quem manda sou eu. Por isso, sinhás corujas cheguem mais perto e vão ver!...Depois, virando-se para mim, falou: E você, não gostou do que fiz? Cheguei-me a ela, e tomando-a nos braços, dei-lhe um beijo, sorrindo daquela cena. Sim, meus irmãos, quando amamos verdadeiramente, quando estamos com nossa alma gêmea, estamos com a mais doce das mulheres e, em geral, aquelas são, aos nossos olhos, as mais belas, divinas e originais! Por este amor, perdoamos tudo, em recompensa pelo que de bom nos traz. Justininha e eu éramos eternos namorados, porém seus ciúmes continuavam. Eu bem a compreendia, ao ponto de até achar graça de seus caprichos tão infantis.

Estávamos com cinco meses de casados quando resolvemos passear na casa de uma tia minha, onde eu ficara para estudar, quando criança. Todos gostaram da idéia, e, com as recomendações dos velhos, partimos rumo à cidade de Parnaíba. Chegamos às margens do grande rio, e era preciso usar uma chalana para fazer a travessia. Senti medo, mas nada disse. Entramos na embarcação e partimos. Ao chegar na metade do caminho, senti que não estávamos seguros, e houve uma profunda confusão. Abracei Justininha com força, e tive a sensação da morte! Foi tudo tão repentino que não consigo descrever.

Ouvi Justininha gritar e me falar em desespero: Tiãozinho, saia de perto dessa coruja! E virando-se para uma moça que estava ali junto, continuou: Saia de perto do meu esposo, sinhá coruja! Ele é meu esposo, viu? Vimos, então, que a moça olhava, ao longe, aquela fatal chalana, que acabava de afundar nas águas do rio Parnaíba. Depois, escutamos gritos de desespero... Olhamo-nos e logo compreendemos que não mais éramos deste mundo físico. Sim, ali ficaríamos esperando algum chamado para outras moradas!...

Depois de algum tempo, assistimos quando chegaram nossos restos mortais. Justininha em tudo reparava e ria, achando graça do que via. Porém, se alguma moça ia ver meu cadáver e fazia qualquer comentário, ela brigava e dizia coisas que me faziam rir. Tudo ali, onde estávamos, era novidade e motivo de riso para nós. Começou a escurecer e eu comecei a me preocupar conosco. Que devia fazer? Justininha parecia um frágil passarinho e se agarrava em mim. Era o que me preocupava: sua inocência e sua confiança em mim a livravam de qualquer pensamento mau. Disse-lhe: Justininha! Somos espíritos, e o nosso mundo, o mundo dos espíritos, me parece ser outro, longe daqui. Vamos pedir a Deus que nos mande um Guia, para bem nos conduzir, pois não sabemos o caminho e temos que chegar lá!

Ela começou a rezar a Ladainha de Nossa Senhora. Eu sabia, apenas, a Ave-Maria que minha tia havia me ensinado. Acercou-se de nós um homem, trajando como se fosse um fidalgo, que disse chamar-se Netuno e pediu que o acompanhássemos. Porém, nós tivemos medo, e não quisemos seguir com ele. Começamos a correr de um lado para outro, sendo assediados por espíritos sofredores, que mais pareciam bichos, e que tentavam nos agarrar. Chamávamos por Deus e, na mesma hora, eles se afastavam. Já estávamos cansados de tanta perseguição, quando apareceu novamente o fidalgo e nos disse: Meus filhos! Sempre fui o protetor de vocês e, no entanto, me temem, pois já se esqueceram de mim. Agora, escutem o que lhes vou dizer...

Nisso, ia passando um casal de encarnados, e ele continuou: Sim! Vocês, agora, são espíritos! Vou lhes dar uma prova. Vá, Tiãozinho, pegue Justininha e passem por eles – falou, apontando o casal. Lembro-me bem! Passamos através deles, e o casal apenas revelou sentir arrepios e continuou caminhando. O período que passamos vagando nos deixara na dúvida se éramos ou não desencarnados. Voltamos, então, até o nosso instrutor. Vamos agora – nos disse ele – até onde está aquele pequeno grupo de senhores.

Era um grupo de homens que conversavam animadamente sobre seus negócios materiais. Ficamos um pouco entre eles, e começaram a se sentir mal. Um se queixava de enxaqueca, outro dizia estar sentindo um grande peso nas costas, enfim, se foram, nos deixando sozinhos. Eu perguntei a causa daqueles transtornos naqueles senhores que, antes de nossa chegada, pareciam nada sentir. Netuno sorriu, e nos explicou:

Quando vocês passaram pelo casal, assim como em meio aos senhores, foram-lhes fornecidos os necessários fluidos, isto é, ectoplasma, força vital. Levou-nos para um outro lugar, e continuou: Agora, procurem ver os quadros de seus feitos...Foi então que tudo se clareou para nós. Não sentimos mais medo do nosso protetor e seguimos ele para um plano de readaptação, as casas transitórias. Passamos, assim, a sermos submetidos às exigências da hierarquia espiritual.

Hoje, após várias missões, inclusive em Nosso Lar, uma Casa Transitória, aqui estamos, integrados à missão do Grande Seta Branca. Somos, também, Jaguares, junto a vocês, Mestre Sol e Mestre Lua, Doutrinador e Apará!...

Salve Deus!
Observação:
Essa estória Tia Neiva nos relatou para que tivéssemos uma idéia das queridas figuras de Tiãozinho e de Justininha, almas gêmeas de natureza psicofísica muito além da nossa, aqui na Terra. Como o Capelino Stuart, Engenheiro Sideral de Capela, Tiãozinho reencarnou para auxiliar o resgate de Justininha, que ainda estava presa a reajustes cármicos de suas últimas passagens no plano físico da Terra. Libertados, puderam seguir suas jornadas em Capela, tendo Tiãozinho se engajado na Corrente do Amanhecer, onde realiza grandes trabalhos, nos protegendo e ajudando em nossas questões materiais e, especialmente, em nossos deslocamentos e viagens, zelando por nossa segurança. Mas Justininha não se ligou à Linha do Amanhecer, realizando seu trabalho junto às crianças e adolescentes, preocupando-se com os espíritos mais rebeldes e menos evoluídos, aos quais impõe a responsabilidade por suas ações, dentro da Lei de Causa e Efeito. Essa divisão de atividades, porém, não interfere na profunda ligação desses dois iluminados seres Capelinos, que emanam e projetam seu grande amor em nossos lares e em nossos corações. Por isso, não aconselhamos que Justininha seja convidada para as Linhas de Passes do Pequeno Pajé, até que tenhamos instruções em contrário, uma vez que ela não realiza tais trabalhos no âmbito da Corrente do Amanhecer. Salve Deus!

Almas Gêmeas

Através de suas faixas cármicas na longa jornada evolutiva, em qualquer situação em que não estiverem juntos, haverá sempre uma imensa saudade que se reflete em cada um dos dois, tornando suas existências incompletas. Podem amar e ter tudo no plano material, mas fica uma sensação de insatisfação, de não estar completa a felicidade que só se realiza quando as duas almas gêmeas se reencontram. E esse reencontro também só se realiza quando ambas estão livres de seus compromissos cármicos, como veremos mais adiante na história que Tia Neiva nos contou.
Não temos como penetrar na Mente Divina e perscrutar os misteriosos desígnios do Criador, mas, o mecanismo das Almas Gêmeas é poderoso incentivo ao retorno às origens, ao seio do que é completo a de que um dia os espíritos voltarão à divindade. E é muito linda a jornada das almas gêmeas. Como progridem em missões separadas, na maioria dos casos uma se dedica ao auxílio da outra. Vivem no amor completo e incondicional. Quantas chegam ao último degrau de sua evolução na Terra, mas, como sua outra metade ainda esta a caminho, pedem a graça de poder voltar e ajudar sua alma gêmea. E é um grande sacrifício este, pois este planeta é excessivamente pesado em suas faixas vibratórias e um espírito sofre muito em uma encarnação dessas. Mas parte feliz, com esperança, com dedicação, porque é uma missão de amor. Para se ter um exemplo do encontro das almas gêmeas de seus compromissos, vamos ver a história de um velho Jaguar e Rosa Maria, que Tia Neiva nos contou em uma aula dominical.
Salve Deus!
Certa vez fui abordada por um espírito calmo, tranqüilo, muito bacana mesmo, desses que você pode ler em sua mente, ver em seu rosto toda dignidade, as coisas boas que porta o homem sem frustração. Honesto, sem essa maneira de querer enganar alguém. Tive a certeza de que era um daqueles espíritos que, conforme a época que estou passando;Amanto, Umahã ou Pai Seta Branca, me enviam para transmitir uma história, uma mensagem.
Aquele espírito foi chegando e começou a falar tranquilamente sobre sua vida. -Tia – falou, eu sou aquele do sonho...Aquele sonho... Lembrei-me de que já o encontrara antes e me contara muita coisa. Perguntei: -Graças a Deus! Tem mais alguma coisa boa para dar continuidade? -Sim Tia, tenho. Tenho o princípio da história, da minha vida, que vou lhe contar. Eu era um homem perverso um verdadeiro tirano. Sou um Jaguar! Vivi nas planícies e estive por todas as partes da Terra. Só aprendi tirania e violência. Não conhecia o amor. Um dia reencarnei no império como senhor de engenho. Sorri, lembrando-se de vocês meus filhos. Esses seus rostos, cada um revelando um Jaguar, senhor de escravos, senhor de engenho...
-Fui senhor de escravos – continuou – mas era muito direito em meus negócios e procurava aplicar a justiça a meu modo. Fui muito querido pelo Imperador, chegando mesmo a merecer plena confiança dele. Constantemente estava no palácio – e então citou diversos nomes de políticos, senadores, homens importantes naquela época, com os quais tinha estreitos laços de amizade. -Eu era um homem tão temido que quando chegava em minha fazenda Tia, uma das melhores regiões, com uma bela mansão, os escravos ficavam temerosos de mim. Faziam tudo com medo de mim, da punição que era certa se não agissem conforme minha vontade. Minha família era a mais bonita que havia. Minha esposa era linda e meus dois filhos, um casal, eram verdadeiros príncipes. Enfim Tia, parecia que eu não tinha mais nada para desejar na vida. Bastava que eu falasse uma coisa e todos corriam para me atender. Eu fui esse homem Tia Neiva... Tinha tudo mas a verdade é que não tinha amor por nada. -Esse é o grande mal – comentei. Quando não temos amor no coração filho, a vida se torna seca, difícil...
-É Tia, eu era honesto com minha família, com minha mulher, com meus negócios. Mas, sentia no íntimo que alguma coisa me faltava. Um dia... Ele parou de falar e em seu olhar havia um brilho diferente, quando continuou com meiguice – Tia, a senhora vive falando sobre as almas gêmeas. Pois um dia esbarrei com minha alma gêmea. Interessante Tia, que nunca notara a presença daquela escrava. Era uma jovem bem clara e naquele dia quando eu me dirigia ao portão da casa, ela vinha com uma cesta de verduras e não me viu. Deu um encontrão em mim e as verduras, se espalharam pelo chão. Ela ficou em pânico... Abaixou-se para catar as verduras chorando e me implorando que não a castigasse. Queria até mesmo beijar meus pés na sua aflição e humildade. Fiquei reparando nela e alguma coisa despertou no meu íntimo. Senti que ela era diferente. Senti meu coração se encher de alegria com a presença dela. Então, peguei sua mão e a ergui, eu mesmo me abaixando e catando as verduras para recolocá-las na cesta. Ela paralisada pelo medo, me olhava com lindos olhos marejados de lágrimas; balbuciava desculpas e pedia que eu não a castigasse. Acabei de encher a cesta e me levantei, encarando aquela linda moça. Trocamos um lindo olhar e acho que consegui transmitir a ela o que eu sentia, de tal forma que ela pareceu se tranqüilizar, acabando por dar um tímido sorriso. Eu é que me desculpei por minha falta de atenção, e fiquei parado vendo aquela figurinha tão querida, sumir entre as plantas do jardim levando sua cesta.
Desse momento em diante meus filhos, aquele Jaguar se transformou. Aquele encontro com sua alma gêmea – de que ambos não tinham consciência por estarem encarnados – despertou no coração dele o amor. E o amor transforma as pessoas. Enquanto caminhava para a casa ia pensando no que havia ocorrido. Sentiu profundo desespero pela fama que tinha ao lembrar a aflição de sua querida, o medo de ser castigada por algo tão banal. Aquela maneira humilde de pedir desculpas... Aquele olhar...Sim, decidiu que dali para frente não mais seria aquele tirano. Em casa, à noite, não conseguia dormir. Os dias se seguiram e ele ficou isolado sem falar com ninguém; mal comendo, com o pensamento naquela escrava adorada, cuja presença ele não havia percebido até aquele dia. Não entendia o que estava acontecendo...!? Como podia não ter notado aquela meiga presença? Ansiava por revê-la e ao mesmo tempo temia como pudesse reagir a um novo encontro. Seu comportamento preocupava a todos.Sua mulher achava mesmo que ele estava enfeitiçado, tal era a mudança que se operava nele. E um dia receberam a visita do Imperador. A azáfama da recepção quebrou a rotina da fazenda e até o Jaguar, saiu um pouco de seus pensamentos para receber o ilustre amigo. E na hora de servir o chá, quem se apresentou com a bandeja foi à bela escrava. Quando ela se deparou com o Jaguar começou a tremer tomada de emoção e desequilibrou a bandeja que caiu, despejando tudo sobre a mesa. A sinhazinha com sua percepção sentindo a reação dos dois ao se olharem, ficou furiosa e chamou o feitor para que retirasse imediatamente aquela escrava dali e lhe aplicasse terrível castigo. O Imperador que era muito galante e percebera a escrava encantadora, pediu que nada fizessem com ela. Era um acidente e pronto. Já tinha passado, não devia a moça ser castigada. Também o velho Jaguar interferiu, dizendo ao feitor que não era preciso levá-la. Essa reação mais raiva provocou na sinhazinha, tomada pelo ciúme, já deduzindo que aquela bela jovem tinha algo a ver com a modificação que se passara com o marido. Ordenou ao feitor que a levasse. Logo que o feitor saiu com ela, empurrando-a com brutalidade, o Jaguar foi atrás e mandou que ele a soltasse e que ela fosse para junto das outras escravas na senzala.
Era a época dos Nagôs que trabalhavam muito com os espíritos e faziam trabalhos que os outros diziam que eram feitiços. Por isso a sinhazinha achou que finalmente descobrira a causa de tão brusca alteração no comportamento do marido; ele fora enfeitiçado por aquela escrava. Começou a perseguir a moça e o Jaguar percebendo tudo, procurou solucionar a questão. Arrumou um amigo de confiança e pediu que ele fizesse uma compra forjada daquela escrava para que ela pudesse escapar da sinhazinha. E assim foi feito. Comprada à escrava, parecia que tudo voltaria ao normal na fazenda. O próprio Jaguar insistira para que ela fosse vendida, dizendo que já não agüentava ver à sua frente aquela mulher que tanta vergonha os haviam feito passar diante do Imperador... Mas o que não sabiam é que o senhor da fazenda, arranjara um sítio solitário e escondido onde à bela escrava foi se ocultar. E uma vez ali instalada, longe das garras da sinhazinha, aquelas duas almas gêmeas puderam construir um pequeno mundo. Passaram a se encontrar e sempre que possível, o sinhozinho corria a ver a sua amada.
O amor das almas gêmeas é uma coisa sublime, muito lindo, pois nunca pode se erguer sobre a ruína dos outros. Para a plena realização torna-se necessário que ambos estejam livres de outros compromissos. Mas o sinhozinho tinha a família e então, era preciso que acontecesse um verdadeiro milagre – como eles mesmos diziam - para que ele pudesse se libertar. A esposa, os filhos ainda pequenos, representavam uma verdadeira barreira para a plena vida daquele amor. O respeito da moça - que se chamava Rosa Maria - pelas responsabilidades do Jaguar, mantinha a harmonia daquele romance sem criar sofrimentos.
O tempo passou. Os filhos do sinhozinho já mais crescidos foram estudar em Portugal. E naquele mundo de encantamento das duas almas gêmeas, teve início o último reajuste pelo qual deveriam passar para se libertarem totalmente. Lembrem-se meus filhos, que só retornamos às origens quando nada mais nos resta a resgatar. Vejam o exemplo de Doragana, que viu aquele cobrador a urrar de ódio e submeteu-se a um julgamento para libertá-lo, a fim de que pudesse tranquilamente voltar à origem. Havia uma conta do passado. E para resgatar essa dívida, Rosa Maria concebeu um filho que seria aquele espírito reencarnado para se reajustar com ambos. Mas, o fato de ficar grávida envergonhou tanto a Rosa Maria perante o Jaguar, que ela perdeu o encanto pela vida. Achava que aquilo era uma falta de respeito para com seu amado, gerando uma responsabilidade que ele não tinha condições de assumir.
É que encarnados não se lembravam dos compromissos assumidos no espaço. Aquilo tudo havia sido tramado com ele no espaço, sob os desígnios da Lei de Deus, que lhes fornecia aquela oportunidade de resgatarem sua última dívida. Porque as almas gêmeas só se realizam quando nada mais devem, quando não tem mais qualquer obsessor e quando já atravessaram suas faixas cármicas positivas e negativas e podem, assim, retornar juntas às origens. Por que é muito bonito meus filhos, ver o trabalho das almas gêmeas. Uma ajudando a outra evoluir a se libertar. Quantas já não precisavam mais retornar a Terra, mas como estão mais evoluídas que a sua alma gêmea, reencarnam e sofrem para ajudar aquela a subir o degrau. Sempre com dedicação, com amor. Uma beleza...
Mas, sem consciência de suas tramas no espaço, Rosa Maria com a situação, até dar à luz uma bela criança; um menino clarinho, louro, com lindos olhos azuis. O nascimento do menino modificou a sintonia do casal. Rosa Maria passou a viver mais feliz e ambos se dedicavam com grande amor àquela criança. Aquele amor ia resgatando a dívida com aquele espírito. O menino crescia e o sinhozinho estava totalmente modificado. Pela realização de seu amor, pela sintonia com Rosa Maria, pelo tesouro que o menino representava em suas vidas, ele se transformara em um homem bondoso e amável. Tão bom que todos que o conheceram antes se admiravam. Havia mandado embora de sua fazenda o malvado feitor, aquele homem feroz que castigava e surrava os escravos e, tudo era administrado com amor. Isso é que eu gosto de mostrar a vocês, meus filhos. O amor é uma força poderosa, bendita, que não deixa que se possa fazer mal aos outros ou ferir alguém. Quando se ama, mas se ama realmente; a gente ama todo o mundo. É filhos, o mundo inteiro agente ama. Não sei quantos de vocês já puderam sentir isso, ter a oportunidade de viver um amor assim, um amor de respeito, um amor que a gente respeita; que a gente sente realmente estar muito acima dessas baixezas... Duas pessoas que sentem um amor verdadeiro sabem se entender à distância, se falam no silêncio, se harmonizam a cada momento de suas vidas. Este é o amor das almas gêmeas.
Muitos me falam que encontraram sua alma gêmea. Eu concordo, pois não quero causar tristeza. Mas o amor das almas gêmeas transforma as pessoas. Elas ficam boas, não pensam em fazer o mal à sua família, não pensam em fazer mal aos outros, não desrespeitam a família. A primeira coisa que fazem é passar a amar também os outros, principalmente os filhos, mesmo que sejam frutos de ligações com outras pessoas. Acho lindo o amor das almas gêmeas no espaço. Têm a mesma paixão, a mesma vida como temos aqui. Muitas tiveram filhos na Terra e os buscaram para, reunidos, viverem juntos em suas mansões do espaço. São tão felizes e se realizam tanto com seu amor, que buscam levar a felicidade aos outros. Com essa intenção, protegidos pela vibração desse amor tão puro, penetram naqueles pântanos sombrios, arrebatando das trevas muitos espíritos que por ali se debatem.
Vejam o exemplo desse velho Jaguar: Era um tirano – e ele me mostrou muita das barbaridades que havia cometido - e temido por todos. Um dia – um simples olhar modificou tudo. Pelo esclarecimento dos dois tudo se transformou, e ele se tornou tão bom que até mesmo no palácio do Imperador, se comentava o milagre de sua modificação. A felicidade do encontro das almas gêmeas aqui na Terra, reside no fato de não terem compromissos com outras pessoas. Elas se encontram, se amam verdadeiramente, mas não podem desfazer os laços cármicos, seus laços transcendentais. Apenas porque se encontram, porque se amam não podem abandonar seus lares. E isso é o que havia acontecido com aqueles dois; tinham vindo apenas para resgatar aquela dívida, libertar aquele espírito que estava encarnado como o filho dos dois.
Mas a Lei de Causa e Efeito sempre está em vigor. E um velho chamado Gregório, que muito havia sofrido naquela fazenda a mando do sinhozinho, soube da existência daquela criança e descobriu toda a situação. Impulsionado pelo desejo de vingança, correu a contar tudo para a sinhazinha. Não poupou detalhes malvados e aumentou muito as coisas, para fazer sofrer o mais que pudesse aqueles que o tinham castigado um dia.
Atenção, meus filhos!Temos visto muitos “gregorinhos” e “gregorinhas” por ai sempre contando novidades – maior parte é mentira! Espalhando o ódio e a desconfiança entre esposa e marido, desfazendo lares, gerando desequilíbrios. Isso é muito perigoso. Quantos ao chegarem no dia de prestar contas vão verificar que com suas línguas, cortaram o carma de outras pessoas e não poderão por a culpa em ninguém, senão em si próprios, no seu coração ainda em evolução... A sinhazinha, enlouquecida pelo ódio e pelo ciúme por tudo que ouvira de Gregório, tramou em segredo a destruição de Rosa Maria e do menino. Aproveitando-se do ódio que o malvado feitor nutria por ter sido despedido pelo sinhozinho, conseguiu induzi-lo a realizar seu plano. Um dia, quando o sinhozinho teve que ir ao palácio ver o Imperador, o feitor raptou Rosa Maria e o filho, levando-os para um local ermo, e ali os executou ocultando os corpos. Ninguém vira essa ação criminosa, de modo que quando o sinhozinho voltou e foi correndo ao seu ninho de amor, não encontrou sua amada nem o filho, nem qualquer orientação sobre o destino daqueles dois seres tão queridos. Também pelas redondezas, ninguém sabia informar o que teria acontecido. Desesperado, continuou buscando-os por muito tempo, sem descobrir o que houvera. Mesmo mergulhado na dor e na aflição a, bondade daquele Jaguar superou suas forças. Continuou a ser bom e caridoso e testado por Deus, que quis saber até onde ia sua paciência, superou todo o seu desespero e completou sua missão na Terra, com aquela força bendita que o amor lhe dera.
Sua jornada ainda continuou muitos anos. Na solidão, chorava a ausência de sua amada. Muitas noites quando mergulhava em seus pensamentos, vinha-lhe a certeza de que sua esposa tinha muito o que ver com aquele desaparecimento misterioso. Também não sentia ódio ou desejo de vingança. Lembrava-se de que Rosa Maria sempre lhe dizia que chegaria um dia em que morreriam e poderiam ficar juntos para sempre, no céu. Mas, se ele fizesse alguma maldade, não seria possível o encontro, pois Deus não permitiria que gente ruim entrasse no céu. Ele lembrava dos olhos de Rosa Maria. Quando falava, essas coisas ficavam brilhando como estrelas, como se tivesse certeza do que falava como se o amor deles só pudesse atingir toda a plenitude depois que tivesse deixado essa vida. E porque a amava, tinha confiança nela e achava que o único meio de tornar a encontrá-la, seria manter-se acima do mal. Mas a dor da ausência de Rosa Maria tornara-o triste e a vida era quase que mecânica. Seu coração sangrava de saudade. Tornou-se espiritualista. Continuou acompanhando sua esposa sem demonstrar sua desconfiança, mas a vida já não tinha mais prazer. Só existia para ele a lembrança daquele amor. Muitas coisas enfrentou até o dia de sua morte. Contou diversas passagens, e me admirei com a fibra daquele Jaguar. Era uma época terrível, aquela. Muitos espíritos havia encarnados na Terra na missão de evangelizar. Alguns mesmos vinham preparados para domar como se fossem animais, aqueles espíritos de imperadores, centuriões; vestindo roupagens de Pretos Velhos escravos. Aquele Jaguar havia sido diferente. Morreu purificado pelo amor, por suas boas ações e sua câmara mortuária foi perfumada pelos Pretos Velhos, a quem vivia pedindo perdão pelos males causados outrora.
Pouco antes de morrer, soube de toda a trama da esposa, o triste fim que tinham tido seus amados. Mandou chamar Gregório e fez com que ele visse o punhal que atravessou em seu coração. Mesmo assim, perdoou-lhe e ainda arranjou meios de ajudar ao velho que tanto mal lhe causara. Há muitas passagens lindas nessa história. Houve até o caso de uma aparição de Jesus, ao sofrido Jaguar. Um dia contarei!
Quando desencarnou, Rosa Maria veio recebê-lo. É muito grande a felicidade do reencontro de duas almas gêmeas, preparado pelos mentores. Pensavam que havia chegado o momento de seguirem a linda caminhada para a origem. Mas ainda não era a hora. Havia permanecido aquele espírito cobrador, do filho deles, que o ciúme da sinhazinha não deixara realizar a missão do reajuste. Era preciso reparar o destino daquela criança, que por culpa deles havia nascido em tão tristes circunstâncias. Era responsabilidade do Jaguar, que devia ter tomado as providências para evitar aquela gestação, que o respeito impunha, pois não haveria condições para criar um filho. Com isso, ele criara uma responsabilidade a mais e teria que voltar a Terra para cumprir sua última missão.
Após o feliz encontro, Rosa Maria ficou triste sabendo que ainda teriam que esperar a conclusão dessa missão para poderem ir para a origem. Preocupava-se com seu amado, incerta sobre as condições dele para enfrentar mais uma prova. Ele fora um tirano, mas o amor mudara completamente seu espírito por saber amar. Mas fora a presença de Rosa Maria que o havia despertado para o amor. Agora que ela não viria para a Terra, como agiria ele? Tudo foi preparado no espaço e quando chegou o momento, o Jaguar despediu-se de Rosa Maria e, triste pela separação se encaminhou para o sono cultural.
Quando o espírito vai reencarnar, meus filhos é uma tristeza maior do que a da morte aqui na Terra. Ele vai partir para uma missão da qual tem consciência, sabe da responsabilidade e, corajosamente se entrega ao sono cultural, que vai apagar de sua consciência toda a memória transcendental, preparando-o para ser colocado no feto e nascer na Terra. O velho Jaguar, o velho senhor de escravos, parte em busca de seu filho, o lindo menino louro de olhos azuis. Mas Deus não diz para você que será tudo “bonitinho” nem os mentores resolvem que será tudo fácil. Não! Ele por exemplo, iria voltar a Terra e desposar uma mulher que seria aquele mesmo espírito, da sinhazinha – má a ponto de mandar matar uma criança – e em meio a muitas provações e dificuldades, deveria salvar seu filho, espírito que até aquele instante não perdoara a ele nem Rosa Maria.
Na Terra o inicio foi relativamente fácil. Casou-se (com aquela que havia sido a sinhazinha) e teve alguns filhos. Mas, esquecido dos planos do espaço pelo efeito do sono cultural, não entendia o vazio que sentia. Faltava alguma coisa que não identificava, para sua vida faze-lo feliz, realizado. Perguntava a si mesmo porque aquela paixão pelas pessoas, pelas coisas, aquela insatisfação permanente. E o desespero começava a tomar conta de seus pensamentos, nas horas em que estava sozinho. Foi quando nasceu um novo filho um menino debilitado, com um aleijão na perna e que mais tarde quando começou a falar tinha dificuldades em se expressar um pouco mais moreno do que os demais irmãos e, que o fez sentir algo estranho. Quando pegava o menino no colo, sentia um arrepio, uma sensação que não identificava, mas, sabia ser de repulsão àquela criança. A mãe do menino também demonstrava total intolerância, e até mesmo desprezo pelo pequenino. Vendo essa reação de ambos, o Jaguar superou tudo e passou a amar mais àquele filho do que aos demais. Também a criança ficou num grande agarramento com o pai.
Em seus sonhos o Jaguar se encontrava com uma moça muito bonita – Rosa Maria – que lhe falava na força do amor, e pedia que ele sempre tivesse esperança em seu coração. Sempre protegendo a criança do ódio da mãe e do desprezo dos irmãos, o Jaguar prosseguiu em sua missão. Ficou seriamente doente e o filho mais novo não se separava dele. Ficava ali atento ao que fosse preciso, dando-lhe água, remédio, preso pelos laços de uma profunda afeição. Uma noite profundamente enfraquecido, estado em que se fica mais próximo da espiritualidade, foi levado por aquela mulher de seus sonhos, até uma casa onde havia uma criança. Esta estava muito mal, já para morrer. Os pais ali perto choravam a morte do filho, já não tendo mais a fazer. A criança com os olhos fechados parecia estar sofrendo muito. O espírito do Jaguar ficou preso àquele quadro e se aproximou da criança que abrindo os olhos percebeu a imagem do Jaguar e exclamou: “Papai”. Os pais se alvoroçaram, e o pai abraçou a criança certo de sua melhora, pois ouvira o chamado. Mas o espírito do Jaguar percebeu emocionado quem era a criança, quando vira aqueles olhinhos azuis e sabia a quem ela chamara de Pai. Sim, aquele era o seu filho, a quem buscava para resgatar suas dívidas do passado.
Mas, teve que retornar ao corpo e sua memória apagou-se quase totalmente. Ficou uma lembrança do menino, mas, em sua fraqueza não sabia separar bem os fatos. Seu estado piorou e começou a delirar, falando de um menino louro de olhos azuis, que era seu filho que ele tinha que encontrar. Suas palavras não eram entendidas pela mulher e pelos filhos, que achavam ser tudo fruto de sua delicada situação de saúde. Finalmente o mal começou a ser debelado, e ele teve a fase de recuperação, povoada pela lembrança daquela criança. Irritado por não ser entendido pelos outros, criara em sua cabeça a necessidade de encontrar aquele menino, que ele sabia existir em algum lugar. Já recuperado começou a andar pela cidade. Assim fazia um exercício e atendia à sua ânsia de descobrir a criança. Andava certa vez pela beira do cais, quando o choro de uma criança chegou até ele. Curioso aproximou-se de uma pobre casa de onde parecia vir aquele choro convulsivo. Um vizinho estava por ali e ele perguntou o que fazia aquela criança chorar tanto. -É uma triste história – disse o vizinho – O pai desse menino trabalhava naquele navio ali e saiu com a esposa para dar um passeio de barco. O barco virou e os dois morreram. Restou o filho que está aí com esses parentes, mas, desde então chora como se nada o pudesse fazer calar... Bateu à porta do casebre e uma pobre mulher o atendeu. Pediu para conhecer o pequeno órfão e entrou, aquele menino por quem tanto buscava por quem seu coração ansiava loucamente, chorando. Aquela linda criança loura com os olhos azuis... Emocionado, pediu àquela gente que o deixasse levar o menino, para cuidar dele. Foi atendido prontamente, pois os parentes estavam loucos para se verem livres daquele choro angustiado, e seria menos uma boca para alimentar.
Chegou feliz a sua casa. No trajeto para lá a criança se calara e aconchegara-se a ele como se estivesse acostumada com o seu colo. Sentindo-o em seus braços, o velho Jaguar sentia que amava muito aquele pequeno ser. Um amor muito maior do que o que nutria por qualquer de seus filhos. Até pelo mais novo. Começou uma nova fase de complicações. Os laços de amizade tão profundos entre o Jaguar e aquela criança abandonada, haviam despertado a inveja e o ciúme da família. A hostilidade da esposa – que na outra encarnação mandara executar o menino – era para com os dois. O tempo foi passando, e cada vez mais estreita era a amizade entre o Jaguar e o menino.
Mas o grau de maldade da esposa era tanto, um espírito que não se abria para o amor, e assim não evoluía e esperava uma oportunidade para se vingar daquela criança. E quando o esposo precisou ausentar-se um pouco mais demoradamente de casa, pegou o menino e o colocou para fora de casa. A pobre criança já com sete anos, não pode fazer nada senão afastar-se triste daquela casa, onde estava alguém que lhe era muito caro. Retornando e não encontrando o menino, o Jaguar forçou a esposa a dizer o que havia feito. Ela confessou que havia mandado embora aquele estranho e não permitiria que voltasse. Ele saiu em busca do menino e teve um palpite que poderia encontrá-lo onde o fora buscar – na beira do cais. Correu para lá e viu o garoto sentado, olhando o mar com o queixo apoiado na mão, como se aguardasse alguém.
Alegre pelo encontro chamou o menino. Este assustou-se com o chamado e levantou rápido de onde estava virando-se para ver seu querido benfeitor. Mas, agitando os braços perdeu o equilíbrio e caiu do cais, naquele local cheio de pedras, madeirame e ferros batidos pelas ondas do mar. Desesperado, o velho Jaguar correu e pulou na água. Diversas pessoas que estavam por ali tentaram ajudar, mas, o destino havia marcado aquele desenlace. Morreram ali, pai e o filho, tragados pelo mar. Esse é o destino do homem meus filhos!.Muitas vezes temos uma tristeza muito grande sem saber por quê. Muitas vezes o homem se casa e tem por obrigação honrar aquele casamento, os filhos que dele nascem, mas, em seu íntimo não esta feliz. Porém, existe uma responsabilidade maior; o destino cármico. Ninguém pode ser feliz, feliz mesmo se não terminar sua missão, se não libertar seus cobradores.
Imaginem que aquele filho mais novo, moreno, do casal, era o espírito do velho Gregório, que apesar de seus defeitos físicos, amou muito aquele a quem tanto mal fizera e por ele foi amado. Foi àquela mulher que tanta maldade fizera que o recebeu no ventre e pela benção de Deus, o criou com cuidados, mas sem amor. Mas Gregório conseguiu resgatar suas faltas, pelo amor daquele a quem tanto fizera sofrer.
E no desenlace da história, quando o homem e o menino desencarnaram no mar, seus espíritos se encontraram com Rosa Maria e juntos, felizes foram para sua origem. E a sinhazinha que voltara agora como uma simples dona de casa, não evoluiu, não aproveitou a chance que lhe foi dada, e nada fez de bom. Então, seu sofrimento será grande. Deverá voltar várias vezes, para subir seus degraus na evolução. Mesmo assim, ela foi objeto da ajuda dos espíritos do Jaguar e de Rosa Maria, que entenderam que tudo que ela havia cometido, servira como degrau para a libertação deles, através da evolução. Na realidade, fora a sinhazinha que preparara a subida dessas almas gêmeas.
Por isso, jamais devemos nos queixar de Deus. Ele nos dá tudo, nos proporciona os meios para nossa libertação. O conhecimento, a consciência, é que nos impulsionam no caminho certo. Ele nos dá força antes de chegarmos aqui e, chegamos preparados para cumprir nossa missão. É errado só se desejar coisas boas e reclama-las de Deus. Pelo sofrimento, conseguimos nossa libertação, nossa evolução. Nem Deus, nem nossos mentores, nos seguram para que possamos subir os degraus de nossa jornada. Temos que caminhar por nós mesmos, com nossas próprias pernas. Deus nos dá tudo..

Salve Deus!

Com carinho, a Mãe em Cristo-Tia Neiva.